quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Resenha: A narrativa de A. Gordon Pym - Edgar Allan Poe

A narrativa de A. Gordon Pym - Edgar Allan Poe - ResenhaTítulo original: The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket
 
Autor: Edgar Allan Poe 

Editora: Cosac Naify 
Edição: 2

Ano: 2010
Páginas: 304

Publicação Original: 1838

Tradução: José Marcos Mariani de Macedo 
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Sinopse: A. G. Pym é simultaneamente uma história de aventuras, de terror, um relato de viagem e um elogio à escritura, à forma. E é, ainda, uma sátira feroz ao racismo e um comentário às teorias do navegador J. Reynolds (que acreditava na existência de um túnel ligando os pólos através do centro da Terra). Acima de tudo, Pym é literatura, mais do que um livro apenas. Metáfora, sátira, simetria, trama, persona, viagem - Poe, Pym, espelhos reflexos onde vamos nos ler.


ENREDO


Arthur Gordon Pym nasceu na ilha de Nantucket, famosa por seu porto de pesca e caça às baleias. Seu melhor amigo, Augustus Barnard, é filho do capitão de um navio baleeiro. Uma noite, os dois rapazes se embriagam e decidem, por capricho de Augustus, aproveitar a brisa e navegar no veleiro de Pym, o Ariel. A brisa, no entanto, acaba por ser o início de uma violenta tempestade. A situação fica crítica quando Augustus desmaia de bêbado, e o inexperiente Pym tem que assumir o controle do bote para salvar suas vidas.

Sua primeira desventura oceânica não dissuade Pym de velejar de novo; pelo contrário, sua imaginação é acessa pela experiência. Seu interesse ainda é alimentado pelos contos de marinheiro que Augustus narra para ele. Assim, Pym decide seguir Augustus como um clandestino a bordo do Grampus, um navio baleeiro comandado pelo pai do amigo, que está indo em direção aos mares do sul. Augustus ajuda Pym preparando um esconderijo no porão, prometendo fornecer água e comida até que o navio esteja muito longe da costa para retornar, momento este em que Pym se revelará.

Acontece que os planos não saem bem como o planejado e daí em diante uma série de acontecimentos culminam em sucessivas reviravoltas na vida desses jovens. Tempestades, naufrágios, motins a bordo, ilhas desertas e ataques de selvagens, fazem parte do único romance escrito por Edgar Allan Poe


COMENTÁRIOS

Quando o motim no navio inicia não sabemos o que acontece a não ser pela perspectiva de Arthur que está preso num porão. Uma série de suposições e terror passam por sua cabeça até que seu amigo Augustus lhe explique o que aconteceu. A maneira como Poe escreve a narrativa e justifica os acontecimentos é sensacional. Esse livro tinha tudo para ser monótono, mas conseguiu prender minha atenção. A despeito de um naufrágio no meio do pacífico, acontecem muitas coisas ao longo da narrativa, termo que realmente suscita o que este livro significa. Aqui não existem diálogos. O texto é escrito ora como apontamentos em um diário de bordo, ora como fatos jornalísticos de uma catástrofe.

O que não me agradou muito foram as digressões ao longo da narrativa sobre a história de descobrimentos marítimas e o uso de jargões náuticos como brigues, bujarronas, traquetes de riz duplo e enfrechates a barlavento. Para maior absorção do enredo, sugiro que pesquise sempre que não souber um termo, assim a história será mais inteligível, prazerosa e ilustrativa mesmo que pareça cansativo fazer isso a primeira instância.

Ao contrário do que costuma fazer, Poe lida com personagens jovens, antes dos seus 20 anos. A história parece ser verídica, já que o personagem central introduz o livro dizendo que cedeu suas notas para que Poe as organizasse, porém seu desfecho abre uma lacuna sobre a vida de Arthur Gordon Pym. Cada leitor criará uma teoria, o que deixa o livro ainda mais rico e fantástico do que seria já que o autor não explica os questionamentos que ficaram a cargo de nós.

É uma história que quando lida, tem um cunho real e pode-se dizer que realmente aconteceu. Nossa tendência é esperar pelo fatídico. Pelo mártir. Pelo drama que seria o naufrágio, a falta de água, comida e salubridade. A narração, porém, não se preocupa em vitimar os personagens pelas tragédias que passam. Ocupa-se apenas em seguir una sequência lógica da explicação de como tudo aconteceu.

A edição está muito bem feita bem como a tradução nitidamente primorosa. Vale a pena adquirir o livro tanto por questões literárias como por colecionar um bom exemplar na estante. Aproveite e veja as fotos do Unpacking deste livro clicando aqui!


A narrativa de A. Gordon Pym Cosac Naify resenha


A edição conta ainda com um prefácio por Fiódor Dostoiévski e um apêndice com sugestões de leitura e vida e obra do autor por Charles Baudelaire, primeiro a traduzir os contos de Poe ao francês. 

QUOTE / CITAÇÕES
 
“Este é um escritor particularmente estranho – isso mesmo, estranho, embora de grande talento [...] Seria antes o caso de chamar Edgar Poe não de escritor fantástico, mas de caprichoso” Pág. 7-8 Dostoiévski 

“Tive ocasião de notar desde então que essa espécie de amnésia parcial é geralmente ocasionada pela transição súbita, seja de alegria à dor, seja de dor à alegria – o grau de esquecimento sendo proporcional à amplitude do contraste.” Pág. 165

MUITO BOM

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