Editora: Rocco
Edição: 1
Ano: 1998
Páginas: 88
Publicação Original: 1973
Sinopse: Neste longo texto ficcional em forma de monólogo, Clarice Lispector se confunde com a personagem, uma solitária pintora que se lança em infinitas reflexões sobre o tempo, a vida e a morte, os sonhos e visões, as flores, os estados da alma, a coragem e o medo e, principalmente, a arte da criação, do saber usar as palavras num jogo de sons e silêncios que se combinam. Tudo é revelado através do olhar dessa pintora-narradora, que cai em estado de graça em plena madrugada.
Clarice Lispector dá voz a uma narradora abstrata e ao mesmo tempo celestial, que não é possível ser identificada, mas que é quase tangível. Faz uso de uma metalinguagem, onde a arte fala da arte, envolvendo seu processo de criação. A autora tem um quê de melancólico-reflexivo em seus livros que é sua marca registrada. Nesse não poderia ser diferente. Embora seja um texto curto, é interessante notar a cadência das passagens do discurso que ascendem e decrescem ao longo da leitura. Há várias nuances e mudanças de tópicos num mesmo texto, que por sinal é corrido, não contando com capitulação. Contudo, a maneira como é escrito permite pequenas pausas, as quais a personagem vai e volta com sua narração.
Engraçado (sem ser cômico), melancólico e poético – devido sobretudo ao português erudito. Essas são as poucas palavras que definem este livro que, ao chegar ao fim, já senti uma plena vontade de recomeçar. Leia Água Viva e alimente-se de reflexão.
Os melhores trechos de Água Viva por Clarice Lispector
"O dia parece a pele esticada e lisa de uma fruta que em uma pequena catástrofe os dentes rompem, o seu caldo escorre. Tenho medo do domingo maldito que me liquifica."
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"E tão curioso ter substituído as tintas por essa coisa estranha que é a palavra. Palavras - movo-me com cuidado entre elas que podem se tornar ameaçadoras; posso ter a liberdade de escrever o seguinte: "peregrinos, mercadores e pastores guiavam suas caravanas rumo ao Tibet e os caminhos eram difíceis e primitivos". Com esta frase fiz uma cena nascer, como em um flash fotográfico."
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"Nunca é o impossível. Gosto de nunca. Também gosto de sempre. Que há entre nunca e sempre que os liga tão indiretamente e intimamente?"
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"Sei que depois de me leres é difícil reproduzir de ouvido a minha música, não é possível cantá-la sem tê-la decorado. E como decorar uma coisa que não tem."
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