domingo, 16 de outubro de 2016

Resenha: A Redenção do Anjo Caído - Fabio Baptista


Editora: FSB Books
Edição: 1 

Ano: 2016 
Páginas: 311

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Sinopse: Após refletir sobre a Batalha da Queda dos Anjos e outros eventos ocorridos em sua longa existência, Lúcifer conclui que é inútil continuar lutando contra a onipotência, onisciência e onipresença do Altíssimo. Decide então se render e, com esse intuito, vai ao Paraíso, onde Deus lhe faz uma proposta: para ter chances de ser perdoado, ele deverá vir a Terra, na condição de mortal, e, aqui, precisará conviver e fazer algo bom pela humanidade que tanto despreza. 

No mundo dos homens, o Anjo Caído buscará sua redenção. 

E conhecerá o verdadeiro inferno.


Em A redenção do Anjo Caído conhecemos a criação do universo, antes que houvesse divisão entre céu e inferno. Acompanhamos a conhecida história bíblica sobre a traição de Deus por Lúcifer, só que com um olhar renovado.  

Imagine um narrador onisciente (que não seja Deus), que nos conte como um observador externo, e em terceira pessoa, os pensamentos dos dois lados da mesma moeda. Essa é a proposta de Fabio Baptista com um livro totalmente diferente de tudo que podemos ter visto.
Com um texto descritivo, um tanto cru, e bem delineado, temos uma boa introdução sobre as diferentes perspectivas da origem do universo e a escolha entre os caminhos do bem e do mal. 

Não há floreios quando se trata dos humanos. O leitor poderá se sentir no centro de uma grande capital ao escutar com naturalidade a voz do povo. Passamos desde o dialeto formal, composto pelos seres celestiais nos planos superiores, a informalidade de pessoas sem instrução no planeta terra, findando na mediocridade dos demônios inferiores.

O autor dá voz a cada personagem e seu respectivo núcleo com muita clareza e precisão. Podemos ouvir, nos ambientar e crer facilmente no que estamos lendo.

“Belial fitou o horizonte e, apesar de sua atenção e pensamentos irem muito além, o olhar parou no inexorável paredão formado pelas Montanhas da Danação, uma cadeia de rocha negra, tão dura quanto diamante, com três vezes a altura e sete vezes o comprimento da maior cordilheira do mundo dos homens, onde magma, sangue e as almas dos suicidas escorriam e haveriam de continuar escorrendo, por todo o sempre – as montanhas não enjoam de nada, afinal. Depois delas, estendia-se, a perder de vista, a Planície dos Avarentos, onde as almas mesquinhas eram enterradas em pé, com as mãos presas às costas, uma ao lado da outra, ficando apenas a cabeça para fora da terra. Quando a carne do rosto dos vizinhos acabava, começavam a gemer de fome e assim continuariam pelo resto da eternidade. Um rápido vislumbre desse campo, ou a simples audição do coral macabro de lamentações que dali emanava, seria suficiente para enlouquecer até o mais centrado dos homens, mas aos Senhores Infernais esse lugar trazia energia revigorante. Além da planície estava o Abismo sem Fim, tão escuro quanto era o universo antes que Deus criasse a luz. Nesse lugar eram jogadas as piores de todas as almas humanas, aquelas com quem até mesmo os demônios mais baixos e vis se negavam a conviver e eram relegadas a uma eternidade de queda, frio, escuro e solidão. Esse era o fosso que isolava a, magnífica a seu modo, Fortaleza das Trevas.”

Humor é outro fator importante na história. Pode parecer sacrilégio (por indiretamente estarmos falando sobre religião), mas Lúcifer, “aquele que brilha como a Estrela da Manhã, o mais notável dentre todos os anjos, arcanjos, serafins e querubins”, é um personagem dicotômico engraçadíssimo. Ora sentimos raiva de suas atitudes desprezíveis e cruéis, ora nos divertimos com seu humor negro, sarcasmo e tiradas atuais.

Sensações humanas, antes desconhecidas para Lúcifer, vão se fazendo presentes. Vergonha, raiva, fome e decepção são alguns exemplos que podemos ter uma ideia através dessa passagem:

“Lúcifer não sabia ao certo porque estava fazendo aquilo, mas sentiu uma vontade estranha de desabafar com a menina que acabara de conhecer. Percebia esse comportamento quando observava os humanos: alguns eram capazes de contar a vida toda e expor terríveis medos e anseios a completos desconhecidos com quem esbarravam nos ônibus, trens ou filas e permanecer no mais sepulcral dos silêncios quando estavam na presença de maridos, esposas, familiares e amigos de longa data. A intimidade e o tempo de convivência pareciam tirar das pessoas o gosto pela conversa, enquanto um rosto novo sempre fazia reacender a chama que aquecia o espírito e gerava uma comichão nas cordas vocais. Era essa vontade de falar e revelar segredos que Lúcifer sentia agora.”

Ademais, sentimentos humanos e as desventuras da vida estão novamente em voga na escrita do autor de “Retratos Falados dos Meus Amores Impossíveis”. Enxergamos exemplos práticos de atitudes diárias feitas por nós e que pouco são percebidas, como a revolta quando algo não sai do jeito que queremos e precisamos culpar alguém, nesse caso Deus.

“[...] Porque, aos soldados, interessa mais a certeza, mesmo que ilusória, de lutar no lado que permanecerá de pé ao final da contenda do que a certeza de lutar no lado certo.”

A grande moral que o livro traz é a de que você não precisar estar no purgatório para sentir como a vida pode ser infernal. O paraíso está onde nos sentimos bem consigo mesmos, nos aceitando, buscando a melhora diária e estando em paz com nossa fé, seja ela qual for.

“Sabia ele muito bem que a salvação da alma não era uma questão de bem ou mal, mas de proximidade ou afastamento do Altíssimo. A fagulha de Caos, que todo ser humano trazia consigo, precisava ser voluntariamente convertida em fagulha divina. Aí entrava o livre arbítrio e a salvação através da aceitação consciente e voluntária do amor e da graça de Deus.”

Vale muito a pena a leitura e recomendo ainda mais o livro no vídeo abaixo.



FAZ LEMBRAR...

Mistura do livro Desastre do autor S. G. Browne com Antes do princípio, do brasileiro Rafael Lima.

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