segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A Hora da Estrela - Clarice Lispector (Resenha)


Editora: Rocco
Edição: 1

Ano: 1998 
Páginas: 88

Publicação Original: 1977

Minha Nota:
EXCELENTE








Sinopse: A história da nordestina Macabéa é contada passo a passo por seu autor, o escritor Rodrigo S.M. (um alter-ego de Clarice Lispector), de um modo que os leitores acompanhem o seu processo de criação. À medida que mostra esta alagoana, órfã de pai e mãe, criada por uma tia, desprovida de qualquer encanto, incapaz de comunicar-se com os outros, ele conhece um pouco mais sua própria identidade. A descrição do dia-a-dia de Macabéa na cidade do Rio de Janeiro como datilógrafa, o namoro com Olímpico de Jesus, seu relacionamento com o patrão e com a colega Glória e o encontro final com a cartomante estão sempre acompanhados por convites constantes ao leitor para ver com o autor de que matéria é feita a vida de um ser humano.

Macabéa, 19 anos, do sertão de Alagoas, só tinha até o terceiro ano primário. Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão; os pais haviam morrido aos 2 anos de idade e fora criada por sua tia beata, único parente vivo.

“Sou datilógrafa e virgem, e gosto de coca-cola” Pág. 36

Viera trabalhar no Rio de Janeiro à procura de uma vida melhor. Com o pouco que sabia trabalhava como datilógrafa, um trabalho medíocre onde tinha que copiar letra por letra para não deixar nada passar errado. Morava em um quarto de pensão na rua do Acre com mais quatro companheiras, trabalhava todos os dias e invejava o chame e destreza de sua colega Glória.

“A mulherice só lhe nasceria tarde porque até no capim vagabundo há desejo de sol.” Pág. 28

Tola, solitária, doce e obediente, Macabéa sempre notava aquilo que era pequeno e insignificante. Era apaixonada pela palavra efeméride - mesmo sem saber o que isso significava -, seu único luxo é o cinema uma vez por mês e sua única paixão é "goiabada com queijo".

O pseudonarrador Rodrigo S.M (a própria autora) descreve a história da jovem nordestina ao mesmo tempo que narra seus pensamentos durante o processo de construção do discurso. Demonstra as inquietudes e complexidade que há por trás do ato de escrever e da própria vida. Nesta novela Clarice esboça o medo e a incompletude da morte, Deus e o sentido das coisas.

"Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias.” Pág. 21

O que me incomodou foi o fim trágico e a ausência de respostas para Macabéa, ou melhor, a resolução feita por ela mesma tão tardiamente, porém, é aí que se encontra a beleza do livro, beirando a excelência. Essa é uma daquelas histórias que podem ser lidas várias vezes, por ser relativamente curta e ao mesmo tempo complexa; durante a leitura é impossível não querer grifar muitos trechos interessantes.

“(A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A verdade é irreconhecível. Portanto não existe? Não, para os homens não existe.)” Pág. 80

FILME


Em 1985 o Brasil ganhou uma adaptação para as telas com o roteiro de Suzana Amaral. Como todos sabem, é impossível ter um livro exatamente igual ao filme, mas esse chegou bem perto. Pude lembar de passagens exatamente iguais as do livro; os personagens representam bem os originais - com destaque a Macabéa, vivida pela atriz Marcélia Cartaxo, ganhadora do Urso de Prata por este papel - e toda simplicidade e enquadramento do filme estão bem encaixados.

Sugiro que assistam após a leitura, pois creio que a absorção e esclarecimento serão melhores. Já leu o livro? Então você pode assistir ao filme completo clicando no player abaixo:


Confira ainda um especial da rede Globo produzido por Regina Casé, contando com a participação de Wagner Moura como Olímpico de Jesus, o namorado mau-caráter da nossa heroína.


CURIOSIDADES 

Em sua última entrevista em vida Clarice falou um pouco sobre a criação deste livro. Além disso, para quem não a conhece, esse material é um bom guia para tentar descobrir um pouco dos mistérios da autora. Uma ressalva dada por ela foi que essa mesma entrevista só fosse ao ar após sua morte, o que realmente aconteceu, sendo a mesma transmitida meses depois de gravada, após o falecimento da autora por câncer inoperável nos ovários.




QUOTES

“Outra vez ouvira: “Arrepende-te em Cristo e Ele te dará felicidade”. Então ela se arrependera. Como não sabia bem de quê, arrependia-se toda e de tudo. O pastor também falava que vingança é coisa infernal. Então ela não se vingava.” Pág. 37

“Ela sabia o que era o desejo — embora não soubesse que sabia. Era assim: ficava faminta mas não de comida, era um gosto meio doloroso que subia do baixo-ventre e arrepiava o bico dos seios e os braços vazios sem abraço.” Pág. 45


Conhece, admira ou tem algo a falar sobre a querida Clarice? Deixe seu comentário logo abaixo. ;)

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