Editora: Alfaguara
Edição: 1
Ano: 2012
Páginas: 228
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Sinopse: Com nostalgia e bom humor, o narrador faz uma viagem ao passado, à ficcional cidade de Florida, para recontar o que viveu em meio a uma numerosa família fluminense. A começar por sua tia, a bela Nonoca, 37 anos de idade e dois de viuvez, e suas visitas regulares à farmácia, onde recebia do farmacêutico atenções muito mais especiais do que uma simples cliente. E suas duas filhas, Cotinha e Leninha, 15 e 14 anos, ansiosas para conhecer o verdadeiro amor.
Em Sagrada Família, Zuenir Ventura entrelaça memória e ficção para criar um romance de cunho autobiográfico, recriando os anseios e histórias de uma família que vive na região serrana do Rio de Janeiro, a fictícia Florida, em plena década de 1940.
Manuéu – que se orgulhava da grafia do seu nome, sem saber que era um erro dos tempos da escravidão – é o narrador onipresente da história que acompanha a trajetória dos personagens durante um longo período de tempo. Mesmo que não esteja ativamente presente naquilo que esteja contando, escreve com onisciência, nos dando um panorama geral e preciso do enredo.
Tudo começa com tia Nanoca, viúva, mãe de duas meninas, levando o sobrinho até a farmácia para tomar injeção. Eis que o Mauéu se depara com uma cena para lá de estranha. Ouve a tia reclamando de dor e, ao espiar pelo espaço que separa a sala de medicação do banheiro, vê uma cena que jamais se esquecerá. A seringa não era bem o que espera.
Ali o garoto perdera parte da inocência e em seguida começa a narrar a história de outras pessoas além da sua conservadora família. Fala sobre a pequena cidade e suas matinês de domingo, o footing na praça principal aos finais de semana, e os flertes dos jovens que vivam por troca de olhares.
“Regiões do corpo até então quietas e serenas, como o sexo, se agitavam e assumiam novas formas, se enrijeciam de repente. Uma parte de mim sentia grande prazer nessa transformação, outra se angustiava. Eu queria que alguém explicasse o que estava acontecendo comigo, mas não tinha coragem de perguntar. E perguntar a quem?” Pág. 20-21
Mostra o cotidiano de dona Edith e as meninas, na melhor casa de prostituição de Vila Alegra, a qual tinha códigos de conduta mais formais que os do clube de Florida. Tudo isso às vésperas de Segunda Guerra Mundial, que ditaria o rumo do país nos anos seguintes, além de Douglas, um rapaz carismático, porém violento, que mudaria drasticamente a vida da família em questão.
CONTEXTUALIZANDO A OBRA
Algumas passagens da obra fazem referência a acontecimentos políticos - tanto de ordem nacional como mundial - que estavam acontecendo naquele momento. Embora Getúlio Vargas esteja na presidência do Brasil; o ataque de Pearl Harbor e a subsequente segunda guerra mundial aproximem-se, essas descrições e o contexto político que certos personagens secundários envolvem-se é exposta de modo bem superficial, o que não incomodará ou cansará o leitor que possa não gostar dessa abordagem.
Esboça-se a pureza daquela época, ou seria melhor dizer a castidade, já que a vontade de conhecer o desconhecido era inerente a todas as moças após certa idade. No colégio de freiras, por exemplo, é narrado um trecho onde diz que as meninas não podiam dormir de bruços – facilitava o contato das partes eróticas com o lençol -, e só tomavam banho vestidas, para que não tivessem a visão do próprio corpo nu.
Debate sobre a perda da inocência e o poder machista fortemente imbuído àquela época, onde as mulheres viam-se submissas a seus companheiros e sofriam caladas para não correrem o risco de difamação pelas redondezas.
“[...] Ela gemia, torcia para que aquilo acabasse logo, que cessasse aquele padecimento. Seria ela frígida? Lembrou-se de que um dia ouvira a escondida uma amiga dizer à sua mãe que na primeira noite chegara a desmaiar de prazer. E ela só sentia dor, dor física, junto com a dor da culpa.[...]”Pág. 135
DIAGRAMAÇÃO
Esse é o primeiro contato que tenho com a Alfaguara e devo dizer que a edição está primorosa. Folhas amarelas de papel pólen nobre; diagramação muito bem acabada, com uma fonte em tamanho confortável para leitura, margens espaçosas e capítulos na medida certa – nem tão longos, nem tão curtos. O trabalho gráfico da capa é lindo. Foi uma arte que, particularmente, me chamou atenção.
Zuenir tece uma história que a primeira vista parece uma reunião de pequenos contos sobre uma família cheia de defeitos e segredos como outra qualquer, contudo, a medida que a história caminha, enxergamos o entrelaçamento de pequenos detalhes que culminam num desfecho incrível e incomensurável.
Essa obra é interessante pelo fato de que a todo o momento há interação com o leitor. Seja rindo de fatos inusitados narrador por Manuéu, ou se emocionando com passagens tão bonitas entre as irmãs Cotinha e Leninha, ou levando sustos e mais sustos com revelações e acontecimentos que mudam de ponta-cabeça a vida dos personagens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Zuenir tece uma história que a primeira vista parece uma reunião de pequenos contos sobre uma família cheia de defeitos e segredos como outra qualquer, contudo, a medida que a história caminha, enxergamos o entrelaçamento de pequenos detalhes que culminam num desfecho incrível e incomensurável.
Essa obra é interessante pelo fato de que a todo o momento há interação com o leitor. Seja rindo de fatos inusitados narrador por Manuéu, ou se emocionando com passagens tão bonitas entre as irmãs Cotinha e Leninha, ou levando sustos e mais sustos com revelações e acontecimentos que mudam de ponta-cabeça a vida dos personagens.
Talvez seja uma boa começar por esse livro, nada pretencioso e leve, quem sabe me desperte o interesse no autor.
ResponderExcluirAbs
Realmente é linda a capa, gostei da sinopse e por ser autobiográfico com humor quero agora! Ótimo o review.
ResponderExcluirAbs