domingo, 27 de abril de 2014

Resenha: Por favor, cuide da Mamãe - Kyung-sook Shin


Resenha: Por favor, cuide da Mamãe - Kyung-sook ShinTítulo original: Please Look After Mom

Editora: Intrínseca
Edição: 1 

Ano: 2012 
Páginas: 240 

Tradução: Flavia Rössler 
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Sinopse: Park So-nyo, 69 anos, esposa e mãe, levou uma vida de sacrifícios. Há alguns anos, sofreu um derrame que a deixou vulnerável e confusa. Certo dia, viajando do interior da Coreia do Sul até Seul para visitar seus filhos já crescidos, Park perde-se do marido quando as portas do metrô se fecham. Ela nunca mais é vista. Começa então a procura, liderada pela família, que se transforma em uma exploração emocional, repleta de remorso, de lembranças do passado e da triste descoberta da mãe que eles nunca conheceram.

“Por favor, cuide da mamãe” nos conta uma história triste, verdadeira e que fere o coração de qualquer leitor, pois se tem uma coisa em que todos somos iguais é a participação de uma mãe durante o nascimento.

Park So-nyo é deixada para trás numa estação de metrô por seu marido enquanto eles estão a caminho da casa do filho para comemorar o aniversário de ambos. Em termos gerais, os dois nunca foram deixados sozinhos quando iam do interior da Coreia do Sul até Seul, contudo, nesse dia acontecem tantas coisas e os próprios filhos estão tão ocupados com suas próprias vidas que acabam deixando tudo ao acaso.

A princípio não fica muito claro como isso tudo aconteceu, afinal, dois velhinhos normalmente andariam juntos, um ao lado do outro, e não se separariam jamais até chegar ao seu destino final, correto? Bom, quem começa narrando a história é a filha do meio, Chi-hon, uma escritora que desde que adquirira sucesso em seus livros se afastara consideravelmente da família. 

“A palavra “Mamãe” é familiar e esconde um apelo: por favor, tome conta de mim. Por favor, pare de fritar comigo e faça um afago na minha cabeça; por favor, fique do meu lado, tenha eu razão ou não. Você nunca deixou de chamá-la de Mamãe. Mesmo agora que ela desapareceu. Quando você chama “Mamãe”, quer acreditar que ela está bem de saúde. Que está forte. Que não se incomoda com nada. Que Mamãe é a pessoa que você tem vontade de chamar toda vez que se desespera com alguma coisa nessa cidade.” Pág. 24 por Chi-hon

No decorrer da história ela é a que mais aparece, uma vez que dar um ar de autobiografia a própria autora Kyung-sook Shin. Junto da visão dela, também conhecemos o filho mais velho, Hyong-chol, o mais amado da família, a filha mais jovem que largou tudo para dedicar-se aos filhos e a vida doméstica, e por fim, o marido de Park, pai dos meninos, que terá muito o que contar sobre todos os acontecimentos que levaram até ali.

Onde está mamãe? Ela conseguirá ser encontrada? O que acontecerá com ela e os filhos depois disso? Apenas uma lição de vida ou algo mais que o livro quer transmitir? Essas são algumas das perguntas que movem o leitor pelas páginas do livro.

“Quase nada neste mundo acontece de forma inesperada quando refletimos com atenção. Mesmo o que alguém poderia considerar incomum, se pensarmos bem, é apenas alguma coisa que tinha probabilidade de acontecer. Deparar-se repetidas vezes com acontecimentos incomuns significa pouca reflexão sobre eles.” Pág. 34 por Chi-hon

COMENTÁRIOS

O enredo mostra quatro filhos (pois um é apenas citado mas não tem participação ativa no desenrolar dos fatos) que a medida que crescem vão deixando a mãe de lado e só se dão conta da importância desta quando a perdem.

Algo que me incomodou muito foi a narrativa. É estranha, como se o próprio personagem falasse sobre si mesmo na terceira pessoa. E outro detalhe: não é dito quem está narrando determinada parte do livro, descobrimos aos poucos por indução. 

O alinhamento do enredo é atemporal. Vamos juntando as peças e formando uma imagem mental dos acontecimentos como um todo. É interessante destacar que acabamos por conhecer um pouco da cultura ocidental nesse livro. Algo que não é muito difundido aqui no Brasil.

A parte 4 intitulada “Uma outra mulher” é narrada pela própria mãe e é um dos melhores momentos do livro. Mostra-a visitando alguns lugares e revivendo situações antes de morrer ou no intermédio entre esse e o outro plano. 

O curioso é dar-se conta que ela tinha uma vida além daquela que os outros poderiam supor. Ela era uma mulher com medos, anseios e falhas como qualquer outra. “Por que nunca levei em conta os sonhos de Mamãe?” É o que a filha mais nova se pergunta numa carta endereçada à irmã.

Digo sem sombra de dúvida que é impossível não sentir raiva do marido por não dar atenção ou suporte nenhum a esposa durante tantos anos.

O final foi cíclico e fechou de forma digna e por que não dizer celestial, uma vez que responde uma das perguntas de mamãe e realiza um dos seus desejos.

MUITO BOM

PERIPÉCIAS E CURIOSIDADES (Contém Spoiler!)

Michelangelo - Pietá

A pergunta de mamãe: Qual o menor país do mundo? (A cidade do Vaticano). O seu desejo: Um rosário de Pau-rosa, também adquirido nesse lugar por Chi-hon.

“Por favor, cuide da mamãe” é um referência de um pedido feito a Pietá, no Vaticano, para que, onde quer que a mãe estivesse, ficasse protegida. 






QUOTE / CITAÇÃO

“Uma casa é uma coisa muito estranha. Tudo fica mais gasto quando é utilizado, e às vezes é possível sentir o veneno de uma pessoa quando nos aproximamos dela, mas nada disso acontece com uma casa. Até uma boa casa desmorona rapidamente quando ninguém cuida dela. Uma casa está viva apenas quando há pessoas morando nela, tocando nela e permanecendo nela.” Pág. 200 por Park So-nyo, mamãe.


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