quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Resenha: Contos Russos - Tomo I (Martin Claret)


Autor: Nikolai Karamzin 
Editora: Martin Claret 
Edição: 1

Ano: 2014
Páginas: 203

Tradução: Oleg Almeida
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Este livro é o primeiro tomo da coletânea de contos clássicos russos, elaborada pela editora Martin Claret de maneira que quem ainda não tem muita familiaridade com a literatura russa, vai descobri-la por meio de seus textos mais significativos; quem já a conhece, ampliará sua erudição.


APRESENTANDO

Começamos o Tomo com uma introdução muito bem escrita pelo tradutor Oleg Almeida, nos apresentando os contos, seus autores e contextualizando o período literário em que esses textos foram feitos (do sentimentalismo ao realismo) bem como sua importância para a Rússia.

O viés sentimentalista (A pobre Lisa de Nikolai Karamzin) põe em foco, como o próprio nome diz, os sentimentos, ainda que de forma exagerada, independente da classe social dos personagens, chegando a tornar-se, nas palavras de Oleg, os romances prediletos de “cavalheiros melancólicos e damas sonhadoras”.

Segue-se para o romantismo (O tiro e A nevasca de Alexandr Púchkin e Vyi de Nikolai Gógol), movimento que abre mão da afetividade exacerbada do sentimentalismo para sobressaltar pessoas incomuns, em circunstâncias invulgares, agindo de modo inabitual. É dizer, mostrar a vida mais simples e menos pomposa em situações peculiares.

As histórias chegam ao fim com a estreia de um realismo fantástico (O Capote de Gógol), onde há a critica em forma sarcástica de uma sociedade injusta e opressora, aliada a situações surreais.


SOBRE OS CONTOS

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A pobre Lisa é um conto triste e amoroso narrado por alguém que não se sabe o nome (julgamos ser o autor), que nos conta a história de forma bem pitoresca, narrando e comentando suas impressões sobre as decisões dos personagens ao longo do texto vivido por eles. A moral está no eterno conflito entre a virtude associada à modéstia e o pecado decorrente da riqueza.

Composto de dois personagens centrais, aquele que observa e narra e aquele que age, O Tiro mostra a sede de vingança que atormenta este último até o derradeiro momento de sua desforra. 

Brincando com os acasos da realidade durante a madrugada, A Nevasca, traz uma história de romance, encontros e desencontros. Com uma rápida fluidez de descrição, acontecimentos e intercâmbio de personagens, Púchkin cria uma história ótima e criativa.

Gógol recria uma lenda eslava no conto Vyi, onde um estudante de teologia se depara com uma temível bruxa e, procurando vencê-la, é absorvido pelo redemoinho de incríveis horrores. Este texto parece até ser escrito por outra pessoa se comparado ao conto que vem em seguida, pois em minha opinião, de todos, é o mais enfadonho e não aprazível, talvez por mostrar mais da cultura russa, pouco conhecida a mim.

Já em O Capote, um personagem vive de forma apática e resignada, sem se importar com o que pensam ou falam de si, vai de casa ao trabalho e de lá para casa. Seu único conforto são as letras, através das cópias que escreve.

Tudo isso acontece, até que seu capote estraga e não tem mais conserto. A ideia de juntar dinheiro para investir em um novo ‘casaco’ preenche seus dias. Não apenas pelo fato de poupar economias (o que muda seu estilo de vida para que sobre renda), mas fazendo parte ativamente da escolha de cada parte integrante da vestimenta, ao lado do seu vizinho alfaiate.

Esse conto me fez lembrar o livro A Hora da Estrela (Clarice Lispector) e foi, sem dúvida, o meu preferido.


SOBRE A EDIÇÃO

A tradução está muito bem feita, com um português formal bem lapidado, incluso notas de rodapé com explicações adicionais, texto introdutório e referencial sobre os autores. Vale muito a pena adquirir!



MUITO BOM

CITAÇÕES

“Akáki Akákievitch não se entregava a diversão alguma. Ninguém poderia dizer que o vira, uma noite, num sarau: farto de escrever, ele ia para a cama, sorrindo de antemão aos seus pensamentos sobre o dia vindouro – o que é que Deus me mandará amanhã para copiar?” Pág. 158 O capote.

“Desde lá, a própria existência de Akáki Akákievitch teria ficado mais plena, como se ele tivesse desposado alguém, como se vivesse com outra pessoa, como se não estivesse mais só, tendo uma agradável amiga consentindo em acompanha-lo nos caminhos da vida – e essa amiga era nada mais e nada menos que o dito capote provido de um sólido forro de algodão, forro este que nunca se gastaria.” Pág. 170 O capote.

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