Autor: Rodrigo Machado Freire
Editora: Círculo das Artes
Edição: 1 (Kindle)
Ano: 2013
Páginas: 97
Minha Nota:
MUITO BOM / FAVORITO |
Sobre: "Não lhes quero dar uma leitura fácil em respeito ao que é muito difícil, tampouco perder a tardança de dias doridos fomentando voláteis leituras. (...) O Idioma da Carne é um vício, uma inflamação da “fala” que une vaidade e insatisfação (...) Com todo o peso e cansaço. Sem tirar um ponto, sem acrescentar uma vírgula de elegância grave. Assim a verdade. Dura, maçante, inverossímil. Se espero que pelo menos entendam ou pelo menos sintam? Quando escrevo apenas acredito inocentemente. O que falta é problema nosso! No mais, quem deve sua produção ao caos não pode mantê-la organizada."
De que história eu posso falar a vocês que o livro se trata? É uma boa pergunta, pois o livro não fala de nada em especial, mas fala de tudo que cerca a vida. A sociedade. O homem em sua plenitude como ser humano.
Só após finalizar a leitura pude compreender o porquê do título. O Idioma da Carne. O que diz, ou melhor, como a nossa alma, carne, corpo, fala, se comunica. Rodrigo Machado Freire reuniu de forma atemporal e aleatória vários fragmentos que escreveu ao longo dos anos nesse livro.
Fala sobre o cotidiano de uma forma poética e ao mesmo tempo escrachada. Rodrigo aparenta ser introspectivo, observador, quieto, calado, e a sua qualidade de texto é pitoresca. Em muitas passagens ele próprio aparece como personagem principal e não se envergonha disso – digamos que em situações não tanto plausíveis, como quando ele fala sobre drogas ou da aversão que sente por seus alunos em sala de aula. Só ele tem como saber se tudo isso que escreveu realmente aconteceu ou foi aquilo que sua mente criativa imaginou a partir dos aprendizados da vida. O Rio de Janeiro é o cenário principal de vários dos casos, local onde vive o autor.
É como se distintos personagens narrassem diferentes situações, que na verdade trata-se do mesmo autor/narrador em diferentes estados de espírito, divagando sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. Tudo depende daquilo que conseguimos absorver nas entrelinhas. Há uma parte que segue um determinado momento da vida do personagem e sempre está escrita em itálico para ser identificada quando vista, esses foram os meus relatos preferidos.
A leitura é contínua, sem capitulação, delimitada entre um fragmento de texto e outro apenas por uma pausa pontuada e logo em seguida se inicia novamente. Tem-se a mistura de gêneros textuais (poemas, frases, textos completos em prosa) e nem tudo pode ser inteligível ao leitor.
"E agora, amigos, como fazê-los entender, já que “entender” é tudo em que outras histórias os viciaram?"
Observando atentamente é uma história curta, porém não tão simples como aparenta. No primeiro contato o leitor pode imaginar ser capaz de ler tudo de uma única vez – e pode até conseguir -, mas acredito que a leitura deve ser degustada e refletida para maior absorção daquilo que o autor quer transmitir com suas palavras.
Iniciei a leitura e logo evolui bastante; confesso que o estilo de escrita e diagramação de texto causa estranhamento e cansaço para pegar o embalo de leitura, mas passada essa fase você consegue fluir e se envolver com o texto. Deixei um pouco de lado, me dediquei a outros livros e então voltei a este. Não me arrependi. O idioma da carne reflete as sutilezas e ‘podridão’ da alma humana, nos deixando reflexivos, em favor ou contra as ideias do autor e, ainda, fazendo vários grifos durante a leitura.
Aprecie!
QUOTES (CITAÇÕES)
"Ela vai falando: “É complicado escrever hoje em dia, ninguém lê! País sem cultura!”, enquanto mete bronca e panos no tal “escritório”. Juízo social massacrado de tão dito: “Ler é importante!” Aquelas frases... Fáticas já!"
"Um pacifista teme que o astuto venha a estragar seu séquito lhe contando a verdade: “Vocês formam um exército!”"
"É má-instrução toda instrução que se crê absoluta, que se acredita única verdade, é ela a fonte do mais incisivo e pragmático preconceito, e perto dela é santa a ignorância. O preconceito não é fruto da ignorância (e fico bobo como temos incorrido repetidas vezes neste erro). O preconceito é fruto da prepotência de se achar ter encontrado a única verdade e, pior, no preconceito é fácil nos acomodarmos, pois ele nos permite sempre pôr um ponto final na nossa negação do outro e na afirmação de nós mesmos. Talvez eu esteja errado."
CONHECENDO O AUTOR
"O livro é muito o "como" contar e não o "o que" contar." Rodrigo M. Freire em entrevista e Editora Círculo das Artes.
Muito boa a resenha. Já quero um exemplar do livro para mim.
ResponderExcluirObrigado Rubem. Adquira mesmo, vale muito a pena.
ResponderExcluirÓtima resenha, Clóvis! O De Frente Com os Livros tem abordado muitos títulos diferentes, de temáticas variadas... isso é maravilhoso. Parabéns por isso, e por se propôr a essas leituras. Enfim, gostei do título de hoje, embora no momento esse segmento não me instingue tanto. Mas se fala sobre o homem e a sociedade, então com certeza é possível retirarmos boas reflexões daí, e isso já émotivo o bastante para nos aventurarmos por O Idioma da Carne.
ResponderExcluirUm abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br
Olá Fran. Realmente é muito bom ler e falar sobre temas variados. Fico contente de transmitir coisas boas para quem passa por aqui. Obrigado pela visita ;) Espero que tenha oportunidade de ler essa obra.
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