Autor: Cecelia Ahern
Editora: Novo Conceito
Edição: 1
Ano: 2013
Páginas: 320
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MUITO BOM |
Às vezes é preciso se entregar a alguém para perceber quem você realmente é.
Esse livro conta uma história dentro de outra história. Tudo começa na noite de Natal quando um menino perambula pelas ruas da cidade e lança um peru congelado pela janela de vidro da casa do seu pai – o qual construiu uma nova família após a sepração. A partir daí o menino é levado a delegacia e é mantido sob custódia até a chegada de sua mãe; enquanto isso, os policiais de plantão – uma jovem bonita e loira e um senhor gorducho – cochicham se devem ou não contar algo trágico que aconteceu naquela noite ao garoto.
É aí que começa a história de Lou Suffern, um empresário bonito e bem-sucedido que vive para o trabalho. Sua mente não encontra conforto em nada e não para de pensar qual será sua próxima atividade, como se desejasse estar em dois lugares ao mesmo tempo. Na correria da ida ao trabalho, Lou se depara com um mendigo diferente que está embaixo da sacada do prédio onde trabalha.
"Entre 35 e 40 anos; terno elegante; o rosto cuidadosamente barbeado, liso como o bumbum de um bebê; o cabelo bem penteado, com toques de grisalho espalhados de maneira uniforme, como se alguém o houvesse salpicado com um saleiro; e além do grisalho, o saleiro também tinha espalhado charme sobre aquele homem que lembrava um astro do cinema dos velhos tempos. Suavidade e sofisticação, tudo embrulhado num sobretudo preto de casimira."
Gabe é observador e sabe dizer com destreza quais sapatos entram e saem do edifício e em que horário isso acontece. Para que se lembrar de nomes se você tem o calçado das pessoas? Ao conversarem – um fato inédito na vida do empresário -, Lou se intriga com as informações dadas por Gabe e na primeira oportunidade que tem, lhe oferece um emprego no escritório para que o mesmo possa ajudá-lo a vigiar e desmascarar os figurões que ali estão.
Porém, há muito mais em Gabe do que o mero poder de observação; o homem aparenta ser misterioso e logo no primeiro momento se sente tão a vontade na empresa, como se estivesse ali por um objetivo próprio. O que mais faz estranhar sua presença é o fato dele fazer tudo com uma rapidez sobrehumana e parecer que pode ir ou estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Entrementes, a família de Lou se entristece com a falta de tempo, seja do marido, do pai, do filho ou do irmão que ele representa. Sua mulher vive para cuidar das crianças e ele mal tem atenção para conversar com ela; o pai fará aniversário em breve e ele sequer lembra-se da data, deixando todos os preparativos a cargo da secretária. Isso sem contar a infidelidade que a própria esposa já presenciou e os impede de ter uma babá para que ele não repita o deslize.
"Após algum tempo, ele parou de fazer perguntas que nunca eram respondidas e parou também de escutar, e percebeu que ninguém se importava com isso também. Estava distante demais da família para tentar entrar, numa única noite, num lugar onde não havia nenhuma vaga disponível."
Mas Gabe tem uma pílula misteriosa que garante que os problemas de Lou se resolvam de uma vez por todas. Ou melhor, um comprimido para dor de cabeça – mas, diga-se de passagem, o remédio faz milagres. Qual o segredo de Gabe? O que Lou fará para resgatar o afeto da família? Trata-se de algo sobrenatural ou uma simples ilusão da cabeça do empresário? O que aconteceu para que o policial quisesse contar essa história ao menino? Afinal, para quê esses personagens secundários aparecem?
Com uma escrita deliciosa e cativante, Cecelia Ahern nos prende em sua história simples, repleta de mistérios, porém que nos questiona sobre os valores que damos a vida e ao tempo.
COMENTÁRIOS
Existem livros que pegamos para ler sem ao menos saber do que se trata, seja por curiosidade exacerbada, seja por indicação de um amigo, seja por acreditar no renome do autor, enfim, por n fatores. Foi isso que aconteceu comigo em “O presente”. Não tinha absoluta ideia do que encontraria nesse livro e foi interessante por me apresentar a autora do famoso livro “P.S. Eu te amo”.
Comentei isso com vocês porque acredito que esse tenha sido o motivo da minha frustração em não saber que o “Garoto do peru” foi um personagem de passagem, que estava ouvindo a história junto com a gente e que não seria desenvolvido mais para frente. Creio que se eu tivesse lido a sinopse antes saberia que a história seria voltada a Lou – o que não foi ruim –, mas me revoltou profundamente. Esperei por um entrelaçamento de histórias à la Nicholas Sparks, mas não é isso que acontece. (Momento desabafo)
Então, o livro me ganha no quesito escrita. A autora nos prende mesmo com uma história “monótona” (rotineira) mas com um texto bem escrito. Lidamos com um enredo atemporal que antecede o tempo de onde começa a ser narrado até alcançar e seguir adiante de onde parou. Cecelia Ahern brinca com o mistério, o milagre de natal, a crença de quem seria Gabe, mas nada é devidamente explicado. Fica muito a critério do leitor.
Estranhei em muitos momentos como ninguém notava que um homem subia e descida 14 andares de um prédio num intervalo de tempo de pouco mais de 5 minutos. Além do décimo terceiro andar, que não existia no prédio e ia direto para o décimo quarto. Esperei por uma explicação filosófica-natalina-cristã e nada. Bom, tirando esses “furos” que me incomodaram um pouco na história, trata-se de um livro bom, acima da média, que serve para refletir sobre como gastamos e queremos passar o nosso tempo.
O final foi abrasador. Você chega a esperar uma coisa e a autora surpreende mudando tudo plenamente; não teria sido melhor se fosse diferente. Um livro feito para a família e quem gosta de apreciar os pequenos detalhes do cotidiano (cegamente) humano.
"Não importa o que alcançasse, a sensação de que teria de conquistar ainda mais era infinita. Para ele, a vida parecia ser uma escada infinita, que desaparecia no meio das nuvens, inclinando-se de um lado para outro, ameaçando desabar e levá-lo para o chão. Não podia olhar para baixo agora ou ficaria paralisado pelo medo. Tinha que manter os olhos apontados para cima. Para o alto e avante."
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