quarta-feira, 17 de junho de 2015

Resenha: Aquele Dia Em Que Deus Estava Ocupado Demais - Guilherme Oak

Autor: Guilherme Oak

Editora: Giostri 
Edição: 1

Ano: 2015
Páginas: 152

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Pedro. Lucas. Natália. Três crianças comuns que têm suas vidas modificadas para sempre numa tarde de 1994. Quase vinte anos depois, o reencontro dos dois hoje rapazes desencadeia uma série de acontecimentos que promoverão nova guinada – e outras sérias consequências.



ENREDO

A trama é ambientada na cidade de São Paulo, em duas épocas distintas – início da década de 1990 e 2012 –, que se intercalam capítulo a capítulo. Pedro, Lucas e sua irmã, Natália, são crianças comuns da classe média paulistana. Estudam em colégio particular e são filhos de mães católicas. Desenvolvem certo tipo de amizade incomum à idade e às peculiaridades de cada um. Vivem intensamente as maravilhas inocentes do ano de 1993 e encontram o pesadelo de uma vida no ano de 1994. Acometidos pelo desejo nojento e impuro de alguém que deveria ser puro, são vítimas de abuso sexual dentro da Paróquia Nossa Senhora do Ó.

Os anos passam e, em 2012, Pedro e Lucas se reencontram acidentalmente. Lembranças e sentimentos são revolvidos durante o inesperado encontro, fazendo- os enfrentar o passado e repensar o futuro.

Esta história traz uma reflexão sobre a suposta onipresença divina e suas inúmeras injustiças através do tempo. 

COMENTÁRIOS

Narrado em terceira pessoa e intercalando os pontos de vista entre presente e passado a cada capítulo, “Aquele Dia Em Que Deus Estava Ocupado Demais” é um livro que aborda assuntos polêmicos, como estupro, pedofilia, pecados e sexualidade, e divaga, sem censura, sobre as fatalidades que acontecem no percurso da vida sob os olhos de um Deus supostamente misericordioso.

A escrita de Guilherme Oak é bem crua, com um viés reflexivo e existencial, o que me agradou. Apesar de o livro ser narrado em terceira pessoa, sentimos fortemente a presença de um narrador que demonstra sua opinião, e se envolve emocionalmente na história, o que nos liga diretamente ao autor.

Por ser ambientado na década de 1990, muitas cenas trazem citações e fazem referência a fatos vividos por alguém que realmente conheceu a época. Seja por eu ainda ser uma criança nesse período, ou pela contemporaneidade dos anos 2000, alguns diálogos e apelidos soaram um pouco inverossímeis - o que não diminui a experiência literária.

Ao iniciar a leitura não sabemos para onde estamos sendo levados, e a narrativa prende a atenção, sem dúvida. Contudo, com o decorrer dos acontecimentos senti um pouco de frustração pelo rumo dos personagens e tudo me pareceu uma busca desenfreada pela justiça. Afinal, acredito que esse tenha sido o objetivo do autor ao escrever uma história sem o intuito de agradar com um final feliz, falando apenas sobre quão cruel a vida pode ser.

Recomendo este livro como uma leitura fora dos padrões que deixa-nos inebriados tanto pelo choque da temática e reflexões sobre religião versus sociedade, como pela bela escrita de mais um autor brasileiro. Valorizemos nossa cultura!

3,5 ESTRELAS

CITAÇÕES

“Uma simples decisão de duas mães católicas preocupadas com a educação religiosa dos filhinhos fadava o destino deles. Seriam mais seis meses de alegria na vida das três crianças e o resto da vida assombrada por uma única tarde de inverno e seu fantasma de batina, o filho da puta oportunista que usava seu Deus e suas artimanhas baratas para foder menininhos e se autodeleitar com seu voyeurismo asqueroso” Pág. 52

“[...] não existe nada que desperte mais a ânsia do ser humano do que a desgraça alheia. O homem se alimenta de carniça, sangue e um pouquinho de esperança.” Pág.76

Sobre o autor: Guilherme Oak nasceu em 1986 na cidade de São Paulo. Publicitário não-atuante, começou a escrever aos doze anos por conta de um concurso literário. Não parou de escrever durante toda a adolescência. Escrevia, inclusive, canções baseadas em melodias do Pink Floyd. O tempo passou e veio a vida adulta. No final de 2013, redescobriu o prazer da pré-adolescência e voltou rabiscar velhos cadernos com poesias e textos curtos. Desde então, Guilherme não parou mais.


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