Autor: Fiódor Dostoiévski
Editora: 34
Edição: 5 | 4ª Reimpressão
Ano: 2004 | 2009
Páginas: 152
Publicação Original: 1864
Tradução: Boris Schnaiderman
Sinopse: Escrito na cabeceira de morte de sua primeira mulher, numa situação de aguda necessidade financeira, “Memórias do subsolo” condensa um dos momentos mais importantes da literatura ocidental, reunindo vários temas que reaparecerão mais tarde nos últimos grandes romances do escritor russo. Aqui ressoa a voz do homem do subsolo, o personagem-narrador que, à força de paradoxos, investe ferozmente contra tudo e contra todos - contra a ciência e contra a superstição, contra o progresso e contra o atraso, contra a razão e a desrazão; mas investe, acima de tudo, contra o solo da própria consciência, criando uma narrativa ímpar, de altíssima voltagem poética, que se afirma e se nega a si mesma sucessivamente.
ENREDO
Considerada uma das primeiras obras existencialistas do mundo, Memórias do subsolo apresenta um compêndio das memórias de um empregado civil aposentado que vive em São Petersburgo. O pequeno romance, mais caracterizado como uma novela, é dividido em duas partes. A primeira intitulada "O Subterrâneo", contendo 11 capítulos; a segunda, "A Propósito da Neve Derretida", possui 10 capítulos.
Este personagem, que não menciona
seu nome em nenhum momento, encena na primeira parte do romance um grande monólogo
com a intenção de "comover" de alguma forma seu leitor. O subsolo é
uma analogia ao subconsciente humano. É no subsolo que se encontram pensamentos
e ideias que queremos esconder de todos, até de nós mesmos, e são esses
pensamentos que comandam nossos atos.
Na segunda parte há três
episódios que relatam de uma forma concreta como o nosso anti-herói é
encurralado socialmente pelos discursos e ações de uma sociedade dominada pelo
despotismo.
O texto é um exemplo do chamado “fluxo
de consciência”, recurso literário que transcreve o complexo processo de
pensamento de um personagem, com o raciocínio lógico entremeado com impressões
pessoais momentâneas e exibindo os processos de associação de ideias.
COMENTÁRIOS
Essa foi uma leitura que me
causou grande inquietação por ser cercada por tantos paradoxos. A cada momento
nosso personagem-narrador se contradiz entre seu pensamento e suas ações. Há o
exagera em sua postura devido ao que ele chama de consciência hipertrofiada, a
qual seria nociva ao ser humano, pois geraria maior sensibilidade em seu modo
de ver o mundo.
“Juro-vos senhores, que uma consciência muito perspicaz é uma doença, uma doença autêntica, completa. Para o uso cotidiano, seria mais do que suficiente a consciência humana comum, isto é, a metade, um quarto a menos da porção que cabe a um homem instruído do nosso infeliz século dezenove e que tenha, além disso, a infelicidade de habitar Pertersburgo, a cidade mais abstrata e meditativa de todo o globo terrestre.” Pág. 18
Um exemplo de seu paradoxo: ele se sente intelectualmente superior aos seus colegas de trabalho ou da época escolar e quer fazê-los enxergar esse fato. Porém, parece demonstrar com suas ações dependentes de atenção que na verdade se sente inferior a todos eles e que está sozinho perante a multidão, precisando de suporte para seguir vivendo.
Dostoiévski escreve de uma forma ímpar (ao menos o que a tradução permite transparecer); durante a própria narrativa, confessa defeitos e qualidades do seu alter ego - daquele que vos fala. Não omite informações. Parece que ao mesmo tempo em que narra à história, crítica aquilo que ele mesmo escreve. Notas de um diário. Sensacional!
O texto é tão rico em informações e ao mesmo tempo complexo, que acredito não ter conseguido absorver tudo que o autor tentou transmitir. Ficaram algumas dúvidas e reflexões que pretendo sanar com uma próxima leitura.
Dostoiévski escreve de uma forma ímpar (ao menos o que a tradução permite transparecer); durante a própria narrativa, confessa defeitos e qualidades do seu alter ego - daquele que vos fala. Não omite informações. Parece que ao mesmo tempo em que narra à história, crítica aquilo que ele mesmo escreve. Notas de um diário. Sensacional!
O texto é tão rico em informações e ao mesmo tempo complexo, que acredito não ter conseguido absorver tudo que o autor tentou transmitir. Ficaram algumas dúvidas e reflexões que pretendo sanar com uma próxima leitura.
MUITO BOM |
QUOTES / CITAÇÕES
“Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos seus amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio, e, em casa homem honesto, acumula-se um número bastante considerável de coisas no gênero. E acontece até o seguinte: quanto mais honesto é o homem, mais coisas assim ele possui.” Pág. 52
“[...] e eu escrevo unicamente para mim, e declaro de uma vez por todas que, embora escreva como se me dirigisse a leitores, faço-o apenas por exibição, pois assim me é mais fácil escrever." Pág. 53
FILME
Notes from Underground é uma versão americanizada da história russa. De 1995, com duração de 88 minutos, dirigido com Gary Walkow e estrelado por Henry Czerny trata-se de um filme minimalista com ar de curta metragem. Há algumas mudanças em relação a cronologia e ausência de alguns personagens. Foca-se mais na segunda parte do livro, onde realmente acontece a interação do protagonista com outros indivíduos. É uma indicação para quem já tenha lido o livro, contudo não recomendaria para aqueles que não conheçam a história, pois aquilo que Dostoiévski quis passar pode soar distorcido, dando uma imagem errado ao espectador.
Assista o filme completo e legendado logo abaixo:
***
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