quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Resenha: Onde Estivestes de Noite - Clarice Lispector

Título: Onde Estivestes de Noite 

Editora: Rocco
Edição: 1

Ano: 1999
Páginas: 94

Publicação Original: 1974


A coletânea de textos de Onde estivestes de noite, de Clarice Lispector, foi publicada pela primeira vez em 1974. São 17 crônicas trágicas e cômicas, onde as dores e as aflições do cotidiano banal são reveladas ora por descrições angustiadas e delirantes, ora por detalhes bizarros, risíveis, bem-humorados.

Com uma literatura ingênua, crua, e verdadeira, Clarice interliga os contos presentes em Onde estivestes de noite, deixando ainda a sensação de que algumas reminiscências de outras coletâneas foram utilizadas.

Deus, vida, morte. São alguns dos termos citados em alguns momentos diversos desse livro. Engana-se quem pensa que as palavras são ditas a esmo, tudo contém o existencialismo atrelado ao cotidiano do jeito Lispector de ser. A velhice, precisamente a faixa dos 70 anos é vista mais de uma vez, teria ela medo de envelhecer ou pura curiosidade da ação do tempo? 

Solidão, silêncio, vazio. Palavras com sentido semelhante, mas que expressam sentimentos diferentes ao longo das digressões do eu lírico. Natureza, como não amá-la? E Clarice preza por sua apreciação, observação, interação. Daí vem à conseqüência das últimas três palavras-chave citadas.

Eis os 17 contos descritos em ordem de aparição:

1. A procura de uma dignidade
2. A partida do trem
3. Seco estudo de cavalos
4. Onde estivestes de noite
5. O relatório da coisa
6. O manifesto da cidade
7. As maniganças de Dona Frozina
8. É para lá que eu vou (Preferido)
9. O morto no mar de Ucra
10. Silêncio
11. Esvaziamento
12. Uma tarde plena
13. Um caso complicado
14. Tanta mansidão
15. As águas do mar
16. Tempestade de almas
17. Vida ao natural

A visão lírica de um macaquinho é captada numa viagem de ônibus (“Uma tarde plena”); uma velha perde o rumo e gira em parafuso no estádio do Maracanã, que se transforma num labirinto (“A procura de uma dignidade”); os caminhos de duas mulheres – uma jovem, outra velha – cruzam-se numa viagem de trem que as conduz a caminhos diferentes (“A partida do trem”); dois amigos se distanciam porque o que tinham a dizer um para o outro se esgotara (“Esvaziamento”); e o movimento de personagens em direção à orgia noturna, onde as regras do dia são suspensas e prevalece a lógica do sonho (“Onde estivestes de noite”, conto que dá título a coletânea).

Recomendo aos que já conhecem o trabalho da escritora e também aqueles que nunca leram nada de sua autoria. É um bom começo para se apaixonar por seu jeito delicioso de escrever. Após sua leitura sentimos vontade de sentar, de frente para o mar ou alguma região verde, sobretudo, e escrever de dentro para fora.

As melhores citações encontradas por mim

“Havia uma multidão que existia pelo vazio de sua ausência absoluta” Pág. 10 conto 1

“Mas bem sabia que a desistência magnética só dava resultados positivos quando era real, e não apenas um truque como modo de conseguir”. Pág. 16 conto 1

“Estou melancólica porque estou feliz. Não é paradoxo. Depois do ato do amor não dá uma certa melancolia? A da plenitude.” Pág. 58 conto 5

“Mim é um eu que anuncio. Não sei sobre o que estou falando. Estou falando do nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome” Pág. 70 conto 8

“Às vezes me dá enjoo de gente. Depois passa e fico toda curiosa e atenta.” Pág. 85 conto 13

“Quem terá inventado a cadeira? Alguém com amor por si mesmo. Inventou então um maior conforto para o seu corpo. Depois os séculos se seguiram e nunca mais ninguém prestou realmente atenção a uma cadeira, pois usá-la é apenas automático.” Pág. 93 conto 16

3 Motivos para ler

1. Um livro curto com menos de 100 páginas
2. Um livro barato, com uma bela arte gráfica
3. Um livro repleto de contos, de Clarice Lispector!

ÓTIMO

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