sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Resenha: A Tentação do Impossível - Mario Vargas Llosa

Título original: La tentación de lo imposible


Editora: Alfaguara 
Edição: 1

Ano: 2012
Páginas: 176

Publicação Original: 2004

Tradução: Ari Roitman e Paulina Wacht
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Um ensaio desenvolvido a partir de um curso ministrado por Vargas Llosa na Universidade de Oxford, em abril e maio de 2004. O autor faz uma análise da criação, da estrutura e dos elementos que envolveram a composição de 'Os Miseráveis', de Victor Hugo.



SOBRE

Quem foi Victor Hugo? Mario Vargas Llosa mergulha no romance Os miseráveis pela perspectiva do leitor agudo, do entusiasta, do criador que conhece os meandros para se erguer um grande livro. E descobre, assim, os mecanismos secretos que impulsionaram o escritor ícone do romantismo francês, nascido em 1802, a criar uma das obras fundamentais da literatura universal. 

Não se trata de um livro sobre outro livro, ou uma espécie de metalivro. É, antes, uma aula sobre o valor da literatura e da leitura e sobre a personalidade e a obra de um autor que alcançou prestígio e popularidade impressionantes ainda em vida. Mais que um escritor célebre, Victor Hugo, ao morrer em 1885, converteu-se num mito, personificando os ideais da república, recém instaurada na França.

Llosa recorda que Os miseráveis não foi elaborado como um romance de aventuras, mas como uma obra repleta de sentimentos religiosos. Evoca ainda aspectos curiosos da personalidade do autor francês, que se dedicou a encontros mediúnicos com o além com quem compartilhava suas convicções políticas, religiosas e literárias. Segue ainda os rastros que falam de um Victor Hugo escritor, político e, acima de tudo, humano; um personagem do romance que sabe se disfarçar de narrador ou de protagonista.

COMENTÁRIOS

Um ensaio, uma resenha estendida, uma maneira de criticar, deixando claro que o material é de qualidade. Essa é a proposta de A Tentação do Impossível. Maria Vargas Llosa recorre a diversas fontes e sobre diferentes perspectivas para olhar o que estava além daquilo que Os miseráveis realmente queria dizer. Uma espécie de “leitura obrigatória” a todos que leem esse clássico da literatura francesa, é uma forma de complemento e comunhão das ideias vividas com o livro principal.

Comenta sobre a vida e obra de Victor Hugo, questiona a presença de um narrador onisciente e de confiança duvidosa, demonstra as ratoeiras-imãs como Llosa denomina a série de encontro entre os personagens-chave (Pensionato Gorbeau, Barricada Chanvrerie e os Esgotos de Paris) e esclarece o poder das coincidências.

Um livro para responder perguntas e se fazer questionar, indicado aos que se apaixonaram pelas aventuras de Jean Valjean e monsenhor Bienvenu, de Fantine e Cosette, de Marius e Javert e de todos os que os seguem na sua viagem em busca do impossível. Afinal...

“Um romance é uma tentativa de recriação e de exorcismo para aquele que o escreve e, frequentemente, para aquele que o lê.”

EDIÇÃO

Impecável. Com notas de referência em cada capítulo, diagramação bem espaçada e qualidade no texto (contando com dois tradutores e mais três na revisão), um livro que vale a pena ter na estante!

POR QUE “A TENTAÇÃO DO IMPOSSÍVEL”?

Porque, segundo Llosa, “tudo é impossível nas aspirações de Os miseráveis, e a primeira dessas impossibilidades é o desaparecimento de todas as nossas misérias”. E ainda, não há a menor dúvida, tampouco, de que “Os miseráveis é uma das obras na história da literatura que mais fizeram homens e mulheres de todas as línguas e culturas desejar um mundo mais justo, mais racional e mais belo do que aquele em que viviam”.


QUOTES / CITAÇÕES

“Os miseráveis é uma ficção, não um livro de História; nele, os fatos históricos são pretextos que um criador utiliza para forjar uma realidade diferente e para falar das questões que o obcecam e que o fizeram, às vezes consciente, às vezes inconscientemente, dar-lhes uma forma narrativa.”

“Hugo realizou uma coisa mais atrevida do que pretendia: não um retrato fidedigno, mas uma recriação da vida tão infiel quanto persuasiva, não uma reprodução do real, mas uma transgressão da realidade que por seu poder de convicção nos é imposta como verdadeira, não a vida, mas a ilusão perturbadora que é um romance consumado, a mentira radical que é a verdade da literatura quando atinge certos cumes e graças à qual a vida verdadeira se torna mais compreensível e mais ambígua, às vezes mais suportável, outras vezes mais insuportável.”

“As ficções existem por isso e para isso. Porque só temos uma vida, e os nossos desejos e fantasias nos exigem ter mil. Porque o abismo entre o que somos e o que gostaríamos de ser precisava ser preenchido de alguma maneira. Para isto nasceram as ficções: para que, dessa maneira vicária, provisória, precária e, ao mesmo tempo, apaixonada e fascinante, como é a vida a que elas nos transportam, possamos incorporar o impossível ao possível e nossa existência seja ao mesmo tempo realidade e irrealidade, história e fábula, vida concreta e aventura maravilhosa.”

ÓTIMO / FAVORITO

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