sexta-feira, 14 de março de 2014

Resenha: Morte Súbita - J. K. Rowling


Título original: The Casual Vacancy

Editora: Nova Fronteira
Edição: 1 

Ano: 2012 
Páginas: 504

Tradução: Izabel Aleixo | Mª Helena Rouanet

Minha Nota:
MUITO BOM / FAVORITO











Sinopse: Quando Barry FairBrother morre inesperadamente aos quarenta e poucos anos, a pequena cidade de Pagford fica em estado de choque. A aparência idílica do vilarejo, com uma praça de paralelepípedos e uma antiga abadia, esconde uma guerra. Ricos em guerra com os pobres, adolescentes em guerra com seus pais, esposas em guerra com os maridos, professores em guerra com os alunos… Pagford não é o que parece ser à primeira vista. A vaga deixada por Barry no conselho da paróquia logo se torna o catalisador para a maior guerra já vivida pelo vilarejo. Quem triunfará em uma eleição repleta de paixão, ambivalência e revelações inesperadas? Com muito humor negro, instigante e constantemente surpreendente, “The Casual Vacancy” é o primeiro livro para adultos de J.K. Rowling.

ENREDO

O romance conta a história de uma pequena cidade do interior chamada Pagford, sendo dividido em sete partes. Cada parte é iniciada por uma citação de 'Administração dos Conselhos Locais', de Charles Arnold-Baker. Todas as partes contém vários capítulos, que vão contando as histórias dos vários personagens, por diferentes pontos de vista. 

A primeira parte representa o desenrolar da morte do Conselheiro da cidade, Barry Fairbrother, que sofre um aneurisma, e morre no estacionamento de um campo de golfe local. A notícia se espalha entre os habitantes de Pagford, bem como seus amigos e parentes, e o caos se instala. 

A morte de Barry revive uma questão há muito discutida pelos membros do conselho: se o carente e problemático distrito de Fields – que está nas imediações da cidade, o qual inclui uma clínica de reabilitação para viciados, Bellchapel,  mal falada devido ao gasto em dinheiro “desnecessário”, que poderia ser empregado em outra coisa - deve continuar fazendo parte de Pagford, ou ser entregue à responsabilidade da cidade de Yarvil.

Barry Fairbrother era defensor de Fields, local onde fora criado, porém, seu falecimento é a ponta do iceberg que rumina toda a história. Num modo geral, todos admiravam esse homem, mas até os mais honrados cidadãos podem esconder defeitos.

O livro é composto por núcleos de personagens que ora se encontram ora não, porém, ao leitor, tudo aparenta estar interligado, pois acontecimentos que um daqueles personagens fazem acarretam em consequências que atingem vários membros da cidade.

PARA QUEM JÁ LEU OU QUER SE ENVOLVER MAIS COM OS PERSONAGENS* 

Nota: você pode optar por pular esse tópico e retornar ao post quando finalizar a leitura do livro para adotá-lo como lembrete para si. Ou prossiga lendo, não contém spoilers!

Os Fairbrothers

Barry Fairbrother: conselheiro na freguesia de Pagford, cresceu em Fields - a linha sobre a qual conduz o enredo do romance. Aprovado por todos, exceto seus inimigos de direita, Barry morre de um aneurisma na primeira cena, deixando uma vaga no conselho e na vida das pessoas.

Mary Fairbrother: esposa de Barry, a pequena viúva loira, é a única pessoa próxima a Barry que sente ressentimento por ele ter passado tanto tempo defendendo a causa Fields, deixando de lado sua própria família.

Seus quarto filhos: Fergus, Niamh, Siobhan, Declan (idade entre 12 e 18 anos).

Os Mollisons

Howard Mollison: proprietário da delicatessen, Mollison e Lowe, Howard tem um grau alto de obesidade, usa um chapéu de feltro atrás do balcão, e considera-se o primeiro cidadão de Pagford. Quando Barry Fairbrother morre, ele mal consegue esconder sua alegria sobre a oportunidade de instalar seu filho Miles como membro do conselho.

Shirley Mollison, sua esposa: Se alguém odeia Barry Fairbrother mais de Howard, é Shirley, que vive em negação contínua de tudo, exceto da natureza maravilhosa do marido e filho.

Miles Mollison, seu filho: Miles é um advogado, um filho perfeito no encalço de seus pais, e um terrível fardo para a esposa.

Samantha Mollison, a esposa de Miles: é o epítome de uma dona de casa frustrada, a fonte de muito da comédia do livro (ela possui uma loja que vende sutiãs extra grandes), mas bidimensional, no entanto.

Maureen, uma viúva que trabalhou na delicatessen de Howard por décadas, agora sua sócia e inimiga de Shirley.

Os Jawandas

Parminder Jawanda: a ranzinza médica local, amigo de Barry Fairbrother e sua defensora no conselho.

Vikram Jawanda, seu marido: um cirurgião cardíaco muito bonito, que mexe com as fantasias de Samantha Mollison.

Rajpal, Jaswant e Sukhvinder, seus filhos adolescentes. Jaswant e Rajpal são estudantes notas dez. Sukhvinder está acima do peso, se automutila e é ovelha negra da família, de quem sua mãe se desespera, e quem é o centro das zombarias cruéis de Stuart Wall, mais conhecido como Bola. Ela faz amizade com a bela Gaia Bawden.

Os Prices

Ruth Price: uma enfermeira, que faz amizade com Shirley Mollison quando esta se voluntaria no, na esperança de encontrar a rainha em uma visita real.

Simon Price: seu violento, abusivo e corrupto marido. Simon decide concorrer à vaga no Conselho de Barry Fairbrother, com base em informações incorretas sobre a possibilidade de propinas.

Andrew e Paul, seus filhos: Andrew odeia seu pai com todas as forças, e se compadece de sua mãe com amargura. Da mesma forma, mas independente de seus colegas adolescentes, ele se envolve em um esquema para derrubar seu pai.

Os Walls

Tessa Wall: uma orientadora na escola local, Tessa encontra Krystal Weedon em seu escritório quase todos os dias.

Colin Wall (conhecido como "Pombinho"), seu marido: diretor substituto na escola, sofre de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) que o leva a acreditar que tenha cometido crimes que ele não fez. Em memória de seu amigo Barry Fairbrother, Colin planeja ficar em seu assento.

Stuart, seu filho adotivo, conhecido como "Bola": é existencialista residente de Pagford. Em sua busca pelo que chama de "autenticidade", procura favores sexuais com Krystal Weedon.

Os Weedons

Terri Weedon: é uma viciada em heroína e prostituta ocasional que vive em Fields. Ela perdeu a guarda de dois de seus filhos, e se arrisca a perder a dos outros dois que sobraram.

Krystal Weedon, sua filha: vive em Fields com a mãe, é a boca-suja, intimidadora e desbocada vadia da escola de Pagford. Porque Barry Fairbrother tomou sob sua asa, ela torna-se uma improvável heroína do livro, e sua história de vida é uma maneira de dizer como a sociedade vai mal.

Robbie Weedon, seu filho: Três anos, Robbie é o menor dos acidentes e a maior esperança da irrecuperável vida de Terri. Ele é a única coisa que mantém Krystal seguindo em frente, e Terri, na medida do possível, fora das drogas.

Outros personagens

Kay Bawden: uma assistente social que se mudou recentemente para Pagford com sua filha, para estar perto do namorado Gavin. O caso dos Weedons passa a ficar sob seus cuidados.

Gaia, sua filha: Gaia é uma linda adolescente de 16 anos, cobiçada por Andrew Price, e torna-se amiga de Sukhvinder Jawanda. Ela é desesperada para voltar para Londres.

Gavin: namorado frágil e indeciso de Kay - também um parceiro na firma de advocacia de Miles, e anteriormente o melhor amigo de Barry Fairbrother.

DIAGRAMAÇÃO

Semelhante a original. Folhas amarelas, fonte tamanho 12, espaçamento duplo, bem agradável para leitura. A edição é uma daqueles que faz gosto se ter na estante. Possui uma aparência aveludada, por conta do material emborrachado que recobre a capa. A tradução também parece ter sido muito bem feita e cuidadosa, e não foram encontrados erros.

COMENTÁRIOS

Sabe um daqueles livros que você começa a ler e sabe que encontrou aquilo que procura, seu gênero preferido; algo que será complexo e um pouco demorado para terminar mais que isso só contribui para lhe instigar a chegar até o fim? Sim, foi mais ou menos isso o que senti ao começar as primeiras cinquenta páginas de Morte súbita.

De antemão digo que esse não é um livro para gostos universais. Aqueles que amaram Harry Potter, podem odiar essa obra ou vice-versa. Aqui trata-se de um texto adulto, sem máscaras, repleto de discrepâncias, marginalidades e overdose de realidade. Além disso, por que não dizer que trata-se de uma estória "enfadonha"? Não me entendam mal, observar o cotidiano de uma série de personagens me agrada, contudo, quem não está habituado a tal sutileza, pode desgostar ou mesmo abandonar a leitura. O que nos prende é o clima de suspense e o cheiro de uma realidade cruel que impregna todas as páginas.

Sobre o desenvolvimento da história, é um mistério saber como terminará. Por um momento achamos que muita coisa deixará de ser explicada mas não é o que acontece. O clímax da história paira sobre um personagem que influenciará a realidade de toda uma comunidade...

Mary é a única personagem que não é explorada no livro, quando aparece – aos olhos de Gavin – está sempre aos prantos pela morte de Barry. Pontos negativos para uma personagem tão irritante e sem personalidade/atitude.

Em morte súbita a autora já dá flashes da sua veia policial, observado no entrelaçamento do enredo. Num momento crucial da história ela envolve vários personagens (senão todos!) com morte, intriga, acidente e dissolução de emoções.

Conflitos familiares entre marido e mulher, entre pais e filhos, conflitos sobre sexualidade, drogas, ideologias e ética são algumas das mensagens que essa obra tenta passar, sob o olhar e escrita de uma renomada autora que é J.K. Rowling. Um olhar sobre as desigualdades, retratando ironicamente a família média burguesa, com muitos trapos sujos no armário. 

QUOTES / CITAÇÕES

“Nascimento e morte: era a mesma consciência de existência iluminada e do destaque da sua própria importância. A notícia da morte súbita de Barry Fairbrohter jazia no seu colo como um recém-nascido rechonchudo as ser exibido para todos os seus conhecidos. E ela seria a fonte, por ter sido a primeira, ou quase, a ficar sabendo.” Pág. 20

“- Vacância – repetiu Howard – é o que acontece quando uma cadeira do Conselho fica vaga por morte do seu titular. É o termo legal – acrescentou ele didaticamente.” Pág. 38 Sobre a relação entre o título original e a versão para o português. Seria difícil você comprar um livro com o nome de "Vacância", concorda?

Se você chegou até aqui, meu muito obrigado! Aproveite para deixar seu comentário sobre o que achou do livro para debatermos sobre o assunto.

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