Editora: Companhia das Letras
Edição: 1
Ano: 2014
Páginas: 274
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Sinopse: Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez.
Dias Perfeitos mostra a instabilidade emocional de uma mente doentia e carente de afeto. Crueldade, amor, sorte e azar são os pontos-chave. O protagonista Téo acredita nas próprias mentiras e encontra justificativas plausíveis a todo o momento para todas as atrocidades que vem a fazer.
Tudo começa em um churrasco, quando o jovem aprendiz de medicina acompanha a mãe paraplégica a casa de uma amiga, onde, durante o tédio de ter que se relacionar socialmente com as pessoas ali presentes, conhece a irreverente Clarice.
Após uma pequena conversa despretensiosa – ela tendo ingerido álcool em excesso –, ele sente que precisa se aproximar mais dessa jovem alegre e descontraída – aquele não pode ser o último encontro dos dois de forma alguma! – criando meios não usuais para tanto. Sua obsessão o impele a um ato impensado que desencadeia uma série de acontecimentos fazendo com que ambos viajem para o local onde Clarice terminaria de escrever o roteiro de seu filme.
“Ela o havia beijado naquele churrasco. Por que parar? Do beijo, furtado e furtivo, ele havia se tornado refém. Não era o invasor, mas o invadido; não queria só desvendar, mas ser desvendado. Ele amava Clarice, admitiu. Precisava ser amado” Pág. 30
E afinal de contas, por que não recriá-lo? É o que pensa Téo, iniciando aquilo que chamaria de Dias Perfeitos, tanto no sentido literal como do que dar nome ao roteiro em questão.
COMENTÁRIOS
Essa foi uma leitura que me incomodou muito. Uma vez que lemos pela perspectiva do “vilão” da história, sabemos que o que ele está fazendo é errado e mesmo assim este parece não enxergar que aquilo foge de todo escrúpulo que alguém realmente apaixonado poderia ter.
O pior é não é isso, mas sim ver momentos em que o algoz tinha tudo para ser pego ou, estando a um passo de ser descoberto, consegue seguir a diante. Isso representa primeiro, o ditado popular que diz que ‘a oportunidade faz o criminoso’, e segundo, a história se passar num país ainda repleto de corrupção – O que é bem retratado e não faz a história parecer incoerente.
Algo curioso é o fato de Clarice, a vítima, não ser indefesa quanto supostamente deveria ser. Trata-se de uma mulher com seus problemas, instabilidades, mas que segue atrás do que quer e mesmo nas situações de risco que Téo a impõe, luta e se rebela até o fim.
O grand finale é polêmico a ponto de fazer o leitor amar ou odiar a obra. Particularmente não gostei do desfecho, por ter uma tendência a querer que o clichê suceda, mas o grande todo do livro é excelente: escrita, construção dos personagens e enredo, ambientação e a criatividade do autor.
PS: a intenção de Raphael Montes foi mesmo instigar o leitor, fazê-lo pensar. Entre um final que agradaria e outro que que chocaria, ele optou pelo último.
- Match Point, filme de Woody Allen.
- Um grande sucesso de Ira Levin. Clique no link para descobri qual livro eu cito. Pode conter spoilers!
QUOTE / CITAÇÃO
“Ele tinha repulsa dessas ideias moldadas em núcleos de novelas das oito. A adaptação seria difícil. A realidade não costuma fazer concessões. Então, quando já se julgava tão seguro de si, Clarice viera trazer algum sentido àquilo tudo – ou romper o sentido que ele mesmo havia criado. Ela o havia realocado no mundo. Téo continuava a desprezar a raça humana, mas ao menos agora era um desprezo desinteressado, quase piedoso. Finalmente, sentia amor.” Pág. 99
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