sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

1984 - George Orwell (Livro e Filme)


Título original: Nineteen Eighty-Four
Autor: George Orwell

Edição: 1 

Ano: 2011 (5ª Reimpressão)
Páginas: 416

Tradução: Alexandre Hubner | Heloisa Jahn

Minha Nota:
ÓTIMO / FAVORITO







Quando foi publicada em 1949, poucos meses antes da morte do autor, essa assustadora distopia datada de forma arbitrária num futuro perigosamente próximo logo experimentaria um imenso sucesso de público. Seus principais ingredientes - um homem sozinho desafiando uma tremenda ditadura; sexo furtivo e libertador; horrores letais - atraíram leitores de todas as idades, à esquerda e à direita do espectro político, com maior ou menor grau de instrução. À parte isso, a escrita translúcida de George Orwell, os personagens fortes, traçados a carvão por um vigoroso desenhista de personalidades, a trama seca e crua e o tom de sátira sombria garantiram a entrada precoce de 1984 no restrito panteão dos grandes clássicos modernos.

Avisos: 1) Tenha paciência e leia até o fim, você não se arrependerá. 2) As citações dentro das caixas de texto servem apenas para incrementar o que estou comentando, você pode pulá-las se quiser.

ENREDO

Winston Smith vive em Londres (“Pista de Pouso Número 1”), na Oceânia, uma superpotência controlada pelo restritivo “Partido” e comandada por seu líder, o Grande Irmão. Esse ícone representa o Estado de uma forma totalitária e mascarada – uma vez que pede que todos o idolatrem e amem , oprimindo, contudo, a população. Essa sociedade é dividida em três castas, digamos assim: Núcleo do Partido, o mais privilegiado, um Partido Externo subserviente, e uma massa indistinta de “proletas”, que representam a escória. Dentro desse Estado não existe lei e há apenas uma regra: a obediência absoluta em ação e pensamento.

Winston pertence ao meio termo, trabalha no Ministério da Verdade responsável por notícias, entretenimento, educação e belas-artes. Local onde altera infinitamente os dados históricos do passado para que combinem com a situação atual da Oceânia. É nesse ponto que começa toda a contradição por trás do Grande Irmão. Cada Ministério faz o oposto daquilo que prega, sendo necessário aperfeiçoar a técnica do duplipensar.

“Mesmo os nomes dos quatro ministérios que nos governam exibem uma espécie de descaramento na inversão deliberada dos fatos. O Ministério da Paz cuida dos assuntos de guerra; o Ministério da Verdade trata das mentiras; o Ministério do Amor pratica a tortura; e o Ministério da Pujança lida com a escassez de alimentos. Essas contradições não são acidentais e não resultam da mera hipocrisia: são exercícios deliberados de duplipensamento.” Pág. 254

O duplipensar significa ter duas teorias de um mesmo assunto em mente,  acreditando em ambas, sabendo adotar a que for mais conveniente conforme a situação. Contudo, você não pode ter ciência que está suprimindo a verdade ou fazendo algo errado, até o inconsciente deve estar moldado para acreditar fielmente no duplipensamento.

“GUERRA É PAZ 
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO 
IGNORÂNCIA É FORÇA” 
Pág. 14 O Lema do Partido

Na casa de todos os membros do partido uma teletela os observa dia e noite, além de poder escutar o mínimo ruído que esses possam fazer. Um barulho suspeito, uma careta fora de hora, uma apreensão além do usual, pode fazer com que você seja preso por ‘crime pensar’.

“A teletela recebia e transmitia simultaneamente. Todo som produzido por Winston que ultrapassasse o nível de um sussurro muito discreto seria captado por ela; mais: enquanto Winston permanecesse no campo de visão enquadrado pela placa de metal, além de ouvido também poderia ser visto.” Pág. 13

Passando a se questionar acerca as verdades impostas pelo partido, Winston consegue um meio de evitar a teletela e, no dia 04 de Abril de 1984 – ou assim ele pensa -, começa a escrever os testemunhos do que todos consideram um crime de pensamento num pequeno caderno que adquirira no mercado negro dos proletas.

A Oceânia possui dois países rivais, os quais vivem em constante guerra – Lestásia e Eurásia – conforme necessário. É estranho notar que pode se viver meses em guerra com um país e de uma hora para a outra mudar de alvo como se a vida inteira este fosse o país de interesse na derrota. Pela falsificação nos registros não há possibilidade de contestar o Partido e as pessoas tem o duplipensar enraizado demais dentro de si para recordar-se de datas passadas.

Winston é abordado por outra oficial secundária, Julia, que reconhece nele um espírito afim. E com ela aumenta sua lista de crimes, executando o pior de todos: sexocrime. O ato sexual deve ser evitado contanto que seja para procriação de filhos que em seguidas tornam-se sentinelas dos próprios pais para que esses se mantenham fiéis aos deveres do Estado.

“Sexocrime englobava toda e qualquer forma de transgressão sexual, incluindo fornicação, adultério, homossexualidade e outras perversões — entre as quais se contavam também as relações sexuais normais que um casal tivesse apenas por prazer.”

“Por quanto tempo pode uma história sobre um futuro que passou continuar a alarmar seus leitores?” Bem Pimlott escreve no posfácio do livro. Acredito que por muito tempo. Esta por exemplo foi escrita na década de 40, em 1948, narrando acontecimentos de um futuro incerto que não se concretizou de fato, mas que se assemelha e muito com a contemporaneidade. 

“Ele já estava morto, refletiu. Parecia-lhe que só agora, quando começava a ser capaz de formular seus pensamentos, dera o passo decisivo. As consequências de toda ação estão contidas na própria ação.” Pág. 40

COMENTÁRIOS

Eu poderia passar “horas”, ou parágrafos, sendo mais preciso, e não conseguiria descrever a complexidade composta em 1984. George Orwell tece uma história tão bem estruturada, com tantos pontos-chave que levam a tantas teorias e pensamentos inquietantes que fica impossível você não tomar várias notas e parar para pensar no decorrer da leitura. 

Para essa história separei trechos e mais trechos e decidi que preciso do meu exemplar (li por intermédio da biblioteca). A história tem um desenrolar muito bom – deixo claro aqui que muito descritivo, poupando os diálogos, o que pode levar mais tempo durante a leitura – e um desfecho mais surpreendente ainda. Daquele tipo de história que recordamos a última sentença do capítulo final para sempre em nossa mente.

Devo dizer que na metade da história já o classifiquei como favorito (um fato inédito em minhas leituras) e me tornei um ser plenamente parcial ao falar no assunto. Provavelmente é necessário uma segunda leitura para captar melhor os detalhes que por vezes deixamos passar.

Merecem destaque as armações que Winston e Julia (sobretudo advindo dela) fazem para não serem descobertos: Em ruas apinhadas de gente e barulhenta; num campanário; numa região de vegetação afastada de tudo até por fim encontrarem seu ninho de amor.

“Ela especificara um lugar onde os dois poderiam se encontrar depois do trabalho, na quarta noite a partir daquele dia. Era uma rua num dos bairros mais pobres da cidade, onde havia uma feira livre que costumava ser muito apinhada de gente e barulhenta. Ela ficaria perambulando de banca em banca, fingindo procurar cadarços para sapatos ou linha de costura. Se considerasse que a área estava livre, assoaria o nariz quando ele se aproximasse. Se não o fizesse, ele deveria passar por ela sem reconhecê-la. Mas, com um pouco de sorte, não haveria problema em conversarem durante quinze minutos no meio das pessoas para combinar o encontro seguinte.” Pág. 155

DIAGRAMAÇÃO

A história em si é dividida em 3 partes mais o apêndice que traz os princípios da Novafala. Esta edição conta ainda com posfácios escritos em diferentes épocas por três diferentes autores. As folhas são amarelas, o papel é polén e o tamanho da fonte permite excelente visualização e conforto de leitura. 

O vocabulário é um pouco rebuscado mas pode-se entender pelo contexto da situação. Não sei dizer se isso ocorreu por mérito da escrita do próprio Orwell ou do trabalho de tradução.

VOCÊ SABIA?



O título do reality show Big Brother surgiu devido a George Orwell. Big Brother (ou Grande Irmão como foi traduzido) é representado pela figura de um homem que vigia toda a população através das chamadas teletelas, governando de forma despótica e manipulando a forma de pensar dos habitantes.

O Big Brother orwelliano, na verdade, é o apresentador do programa. Ele é o único contato que os participantes tem com o mundo fora da casa. Além disso, o apresentador também assume a função de grande irmão ao instruir psicologicamente os participantes. É curioso notar que como em 1984, quando os participantes do Big Brother veem a figura do apresentador na tela, esses o enaltecem da mesma forma que os habitantes da Oceania fazem com o Grande Irmão.*



FILME


Livro e Filme John Hurt, Richard Burton e Suzanna Hamilton
Nineteen Eighty-Four é um filme britânico, dos gêneros ficção científica e drama, produzido em 1984 e dirigido por Michael RadfordJohn Hurt, Richard Burton e Suzanna Hamilton interpretam Wisnton, O'Brien e Júlia respectivamente.

Posso dizer que o filme é bem fiel ao livro, embora este seja cheio de minúcias que levaria horas para serem descritas numa adaptação. A narração de Winston em pensamento se assemelha ao livro quando ele não pode falar o que pensa em voz alta por conta da teletela, o que dá um ar sombrio e de que ele esteja fazendo coisas erradas durante as cenas.

Senti falta de duas coisas de suma importância que não apareceram: a esposa de Winston (sim ele é casado, mas vive sozinho após ela simplesmente sumir do mapa e abandoná-lo) e a sua perna purulenta que dificulta seu deslocamento.

Para quem tem a intenção de assistir sem ler, as cenas do quarto 101 mostradas no campo trazem uma imagem metafórica do que acontece na mente de Winston e a derrocada de suas teorias. Ou seja, muitas nuances só poderão ser enxergadas por quem conhece a história original.

-1984 venceu o Golden Tulip do Festival Internacional de Cinema de Istambul, na categoria "Melhor Filme".

-John Hurt foi o vencedor na categoria "Melhor Ator" no Festival Internacional de Cinema de Valladolid e de Fantasporto (Vitória Merecida!)**



PS: Me recuso a comentar a escalação de Kristen Stewart para um dos papeis centrais do remake do filme para os cinemas, mas você pode saber mais da notícia clicando aqui.

Wikipédia
** Adoro Cinema

Obrigado por ter chegado ao fim, deixe seu comentário sobre sua experiência com alguma dessas obras.

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6 comentários:

  1. Francielle Couto Santos25 de janeiro de 2014 às 20:34

    Sua resenha ficou excelente, Clóvis! Completa, explicativa e com particularidades muito legais, a exemplo da curiosidade sobre como surgiu o nome do BBB. Nunca pensei em ler a trama, mesmo a conheço por intermédio de outros leitores, mas algumas livros são importantes para o nosso pensar, e eu acho que essa se enquadra nesse ponto. Enredos que nos acrescentem reflexões, que sejam densos e que tenham um bom referencial. Muito bom ver comentários sobre 1984 por aí... muito bom ver que vocês se propôs a essa leitura. Parabéns!

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br/

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  2. Esse é um livro que eu não posso deixar de ler esse ano.
    Tb torci o nariz qndo li que a Kristen Stewart estaria na nova adaptação cinematográfica do livro.

    Abs
    bosquedaleitura.blogspot.com.br

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  3. Espero que tenha oportunidade de ler Evy, a história é fantástica e você encontra facilmente em Bibliotecas locais.

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  4. Obrigado Fran. Essa é uma história densa porém deliciosa, nos questionamos, nos intrigamos e não queremos largar o livro. Torço para que você tenha oportunidade de ler muito em breve, afinal Orwell é sensacional.

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  5. Não vou mentir que tenho evitado o livro com medo do vocabulário, de não entender e sair como "chato" pois todos que lêem amam, favoritam etc; o filme foi outra surpresa p mim pensando se confiro antes do livro, se respoderá as expectativas, essas coisas.

    A história do Big Brother já tinha ouvido falar, e as vendas do livro subiram ano passado aqui no brasil e nos EUA HAHAH isso é ótimo. Adorei o review bem completo e de certa forma me incentivando a conferir logo a trama.

    Abs

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  6. O vocabulário é um pouco rebuscado Amanto, com palavras mais formais, porém nada que impossibilite a leitura. É muito bom um livro que te faz pensar a todo momento. Quanto ao filme... acho que não teria a mesma experiência se não tivesse lido primeiro, porque tem sutilidades que só quem conhece a história perceberá. Abraço.

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