Autor: Edgar Allan Poe
Editora: América do Sul
Edição: não identificado
Ano: 1988
Páginas: 96
Tradução: Luisa Feijó | J. Teixeira de Aguilar
Minha Nota:
MUTO BOM |
Sobre: O homem sempre sentiu medo, sobretudo daquilo que não pode entender,do incerto e — porque não dizer — do proibido. Talvez por isso o horror tenha algo que nos afaste, mas que também nos atraia e nos deixe fascinados.
E foi desbravando essa estranha e ambígua sensação que o contista, crítico e poeta norte-americano Edgar Allan Poe se consagrou como um dos mestres do gênero do terror e o pai da literatura policial. Ambientes sombrios, ruas desertas, esquinas escuras, mansões malditas, assassinatos misteriosos e personagens sobrenaturais compõem a atmosfera gótica que tanto marcou suas histórias de terror.
Poe detém o poder de envolver o leitor desde a primeira frase. Ele nos conduz pelo conto, deixando escapar apenas o que devemos saber naquele momento, mantendo o suspense até o desfecho invariavelmente inesperado. Mas sua fina ironia, seu sarcástico humor e suas inigualáveis lógicas e sagacidade também são elementos que cunharam a obra desse homem que influenciou de forma decisiva o conto moderno de horror.
Ler as histórias de Edgar Allan Poe nos faz regressar aos tempos de infância, em que os maiores medos despertavam o horror, mas também deixavam um estranho desejo de sentir o corpo arrepiar, só mais uma vez. Uma experiência inigualável.
Este é um livro relativamente curto, olhando pelo número de páginas, mas imenso quanto a vastidão de histórias. Por se tratar de uma edição antiga, as letras são bem miúdas e o papel amarelado; nada que dificultasse (tanto) a leitura.
São narrados 6 diferentes contos, e por que não ser redundante e dizer mais uma vez a palavra história? Ao passo que vamos passando pelas páginas, cada uma dessas aventuras parecem compor um livro único. Afinal, são diferentes enredos e personagens.
"Os crimes da Rua Morgue" traz uma narrativa que precede os tempos de Sherlock Holmes, porém transcende na mesma genialidade. Ao invés dele temos o também detetive C. Auguste Dupin que desvenda o caso de dois brutais assassinatos de mulheres na Rua Morgue, em Paris. O que parecia um crime insolúvel, torna-se papável pela inteligência minuciosa e sagaz do homem.
"O poder analítico não deve ser confundido com o simples engenho: porque, enquanto o analista é necessariamente engenhoso, o homem engenhoso é muitas vezes incapaz de análise." Pág. 7
Em "O escaravelho de ouro" chegamos uma história ainda mais mirabolante. William Legrand fora muito rico, mas após se mudar para Ilha de Sullivan , por própria vontade, sua vida nunca mais foi a mesma. Contudo, ao encontrar um pergaminho perdido tudo se transforma. A história não se resume ao pergaminho, mas também ao escaravelho. E é com a ajuda do vassalo Júpter e de um outro amigo (narrador da história) que a aventura começa. Iniciam a busca por desvendar enigmas do mistério de um tesouro enterrado há tempos por um pirata.
A princípio me incomodou muito esse conto, devido a falta de explicação do porque dos fatos - que só é dado no fim - mas quando eu desvendei os vários enigmas sob a perspectiva de Legrand, achei tudo muito fantástico. Pouco verossímil, porém racionalmente explicável. A história começa de trás para frente, entendem?
"É o efeito vulgar das coincidências. O espírito tenta estabelecer uma relação, uma sequência de causa e efeito, e, incapaz de o fazer, sofre uma espécie de paralisia temporária". Pág. 53
"O Gato Negro", a mais escabrosa, macabra e amedrontadora das histórias (ok, bem menos, mas é mais ou menos isso). Um casal leva uma vida doméstica tranquila com seu gato, até que o marido começa a ser influenciado pela bebida. O álcool o torna irascível e em um de seus acessos de fúria, ele acaba com a vida do animal. Um segundo gato aparece em cena, a situação familiar piora, acontece um incêndio e uma corrida de acontecimentos que culminam em um resultado horrível.
"Quem não se surpreendeu cem vezes a cometer uma ação tola ou vil pela simples razão de saber que não se deve cometê-la? Não é verdade que temos uma inclinação perpétua, apesar da existência do nosso julgamento, a violar aquilo que é lei, simplesmente porque sabemos que é Lei?" Pág. 67
O Barril de "Amontillado" foi um dos piores contos a meu ver. Acabei a leitura e pensei "Certo. E daí...?". É bem curto comparado aos já descritos e se passa na Itália; conta a história de um homem convicto do desejo de vingança, o enfoque é dado aos fatos em si e aos condicionamentos psicológicos do personagem.
"Manuscrito encontrado numa garrafa" segue a mesma linha do anterior, porém eu esperava mais do desfecho da história. Fala sobre um náufrago e a suposta sobrevivência do narrador - o mesmo que escreve a carta - com descrições sobre a embarcação que o salva do mar e que ao mesmo tempo parece não enxergá-lo. Fica bem a critério do leitor em acreditar ou não no que ele diz, mas tenho uma teoria mais fantasiosa sobre isso...
"Quem tem apenas um momento mais de vida
Nada tem a dissimular". Pág. 81
O último e mais amoroso e belo conto chama-se "Eleonora". A história segue um narrador sem nome, que vive com sua prima e tia no "Vale da Relva Multicor", um paraíso idílico cheio de flores perfumadas, árvores fantásticas, e um rio, nomeado de "Rio do Silêncio". Lá permanece inexplorado pelas pegadas de estranhos e, assim, eles vivem isolados, mas felizes. Passados 15 anos, o vale passa a refletir a beleza do amor juvenil entre Eleonora e seu primo.
Esse é o mais curto e mais bonito conto narrado por Allan Poe; muitos biógrafos consideram a obra uma autobiografia do autor para aliviar os sentimentos de culpa pela perda da esposa. É inegável o sentimentalismo presente nesse trecho, e a lição final que ele quer passar é digna de palmas. Aqui vocês verão que a libertação só ocorre pelo amor e que mesmo de longe, ou na presença de outra pessoa que não seja a pessoa amada, ele pode existir.
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Como prólogo dessa edição, conhecemos mais sobre a vida e obra do autor e descobrimos a causa da sua morte. Li coisas que nem imagina serem possíveis, mas reflete no seu estilo de escrita e valeu muito a pena saber e tentar entender o que passava na cabeça de uma mente tão inquieta.
A cada uma das histórias tive um certo grau de dificuldade. Enquanto algumas são compreensíveis, outras são delirantes e custei a captar a mensagem que Poe quis passar - se é que o fiz. Já uma em especial nos faz arrepiar por tão macabro e frio, porém assim como a sinopse no diz é algo prazeroso e findamos por querer mais.
Esse é um daqueles livros que vale a pena se ter na cabeceira para poder estar relendo em qualquer ocasião e se deliciando com cada uma dessas Histórias Extraordinárias.
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Eu adoro esse livro, Clóvis, embora tenha lido uma versão que tinha mais contos (acho que essa sua edição foi dividida, né?!). Os Crimes da Rua Morgue é um conto simplesmente viciante *-*
ResponderExcluirBeijos,
Nanie
Sim Nanie, esse meu livro é dividido em outras partes só após a leitura reparei nisso. Quero ler todos os outros, me encantei com a escrita do Poe. "Os Crimes da Rua Morgue" é com certeza um dos meus favoritos :)
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